CAAPA - Autismo

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) publicada pela Organização Mundial de Saúde (WHO - World Health Organization), o autismo é classificado como F84-0, como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometimento que se manifesta antes da idade de 3 anos e pelo funcionamento anormal em três áreas distintas: interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo.

Este grave transtorno do desenvolvimento e do comportamento apresenta um alto nível de complexidade, encontrando-se entre os mais severos transtornos manifestados na infância. Compromete todo o desenvolvimento psiconeurológico, afetando a comunicação e o convívio social. Perto de 70% das pessoas com autismo infantil apresentam certo grau de deficiência intelectual. Alguns casos apresentam capacidades/habilidades como: talento musical, facilidade para lidar com número, capacidade mnemônica fantástica para datas e endereços, grande habilidade na área técnica, na montagem de aparelhos, etc.

Cerca de 7% a 10% dos casos apresentam transtornos médicos associados (X frágil, retardo mental, síndrome de Rett, distúrbio obsessivo-compulsivo). A epilepsia se manifesta em torno de 05 a 10% dos casos, acometendo 35% dos indivíduos com autismo.

Até o momento não se conhece uma causa específica para esse distúrbio, mas há várias suspeitas de possíveis causas e as pesquisas não param. Alguns estudos conseguem correlacionar fatores genéticos, problemas metabólicos e mudanças bioquímicas ao desenvolvimento nos períodos pré, peri e neonatais, mas nenhuma associação aplica-se 100%. Este transtorno prejudica a pessoa, podendo incapacitá-la e fazê-la ser dependente de auxílio por toda vida. Importante lembrar que essas pessoas têm longevidade normal. Como em qualquer síndrome, o grau de comprometimento pode variar do mais severo ao mais brando. Este problema pode afetar qualquer família em todo o mundo, pois não faz distinção racial, étnica ou social. A prevalência atual do autismo é de 2 para cada 1.000 pessoas (Bryson, 1997), apresentando as características clássicas de déficit social, alteração de linguagem e de comportamento.

Os índices de incidência divulgados pelas diversas autoridades no assunto, às vezes, variam, já que cada uma assume uma definição para o termo autismo, que corresponde a um conjunto de critérios de diagnóstico diferente e, consequentemente, com uma determinada abrangência. Porém, independentemente de critérios de diagnóstico, é certo que a síndrome atinge principalmente pessoas do sexo masculino, numa proporção de 4 homens autistas para uma mulher com o mesmo diagnóstico. Na mulher o quadro geralmente, é mais grave.

Não se pode falar em cura para os indivíduos com continuum autista. Com a intervenção e diagnóstico precoce, a pessoa pode desenvolver suas habilidades, melhorando seus aspectos afetivos, sociais e comunicativos.

Justificativa

As manifestações do continuum ou espectro autista variam intensamente, dependendo da gravidade do quadro e da idade cronológica. Trata-se de uma condição crônica, incapacitante e se revela tipicamente na primeira ou na segunda infância, exigindo cuidados durante toda a vida.

A pessoa acometida por este transtorno apresenta inadequacidade nas áreas básicas do desenvolvimento e distúrbio no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e lingüísticas, reações anormais às sensações, em especial em relação à visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação. A pessoa com espectro autista apresenta também comprometimento acentuado do desenvolvimento psicossocial (falta de reciprocidade social e emocional), suas relações se restringem aos familiares/pessoas mais próximo. Isto limita sua capacidade de interação social e de comunicação (as quais já são reduzidas devido ao transtorno) e seu repertório de interesses e de atividades é restrito e repetitivo. As atividades representativas e imaginativas em geral estão ausentes ou muito prejudicadas. Possuem baixo limiar de iniciativa e de tolerância a frustrações.

A fala e a linguagem no autista estão ausentes ou consideravelmente atrasadas, usam palavras sem associação com significado, ecolalias, incapacidade de manter uma conversação, geralmente, se utilizam da terceira pessoa em vez da primeira. Certas áreas específicas do pensar estão presentes ou não, dificultando a compreensão de idéias. O ritmo da fala é imaturo, monótono e em tom baixo. O autista não se relaciona normalmente com objetos, eventos e pessoas. Na psicomotricidade, apresentam estereotipias motoras, andar nas pontas dos pés, apatia, hiperatividade. A maioria dos autistas desenvolve soluções de leitura e escrita diferentes das ensinadas nas escolas tradicionais.

Alguns possuem indiferença às pessoas, dificuldade em manter contato visual, negativismo, labilidade de humor, distúrbios na alimentação, ausência da noção de perigo, dificuldade de representar jogos e papéis. Um sintoma característico dos autistas é a repetição exaustiva de uma situação, manifestam rituais de rotina, perseveração.

No entanto, superar a barreira que isola o indivíduo autista do "nosso mundo" não é um trabalho impossível. Apesar de manter suas dificuldades, o indivíduo autista, dependendo do grau do comprometimento, pode aprender os padrões "normais" de comportamento, exercitar sua cidadania, adquirir conhecimento e integrar-se de maneira bastante satisfatória à sociedade. A nosso ver, qualquer trabalho na área deve ter como objetivo principal a constituição do sujeito e a melhoria da dinâmica familiar, para que possam viver com melhor qualidade de vida.

O programa clínico e educacional existente nesta instituição, CAAPA – Centro de Atendimento aos Autistas e Patologias Associadas, oferece uma alternativa de atendimento. São desenvolvidos projetos visando às atividades de vida diária (independência em higiene, alimentação, atividades físicas, esportivas e de lazer), de vida prática (organização e limpeza de ambientes, elaboração de refeições), além de atividades educacionais. A abordagem pedagógica tem como metodologia o Currículo Funcional Natural, ou seja, um programa de atividade que se demonstre útil ao aluno, cujos conceitos aprendidos devam ser usados no dia a dia.

As famílias são consideradas parceiras na educação e no atendimento de seus filhos. São orientadas em esquemas individuais, em reuniões de família ampliada, grupos Projeto “Escola de pais”, em atividades com o filho dentro do ambiente escolar com orientação do Pedagogo responsável. Algumas participam das atividades laborativas (geração de renda) desenvolvidas na própria entidade, no chamado Clube de Mães, é oferecido psicoterapia individual e familiar, atendimento com o projeto home –care (tendo como objetivo transpor para o ambiente domestico as aulas ministrada na escola, integrando família- aluno-escola).

Objetivo Geral

Atender as pessoas com espectro autista para promover o desenvolvimento, a integração e a inclusão social, assegurando seus direitos de cidadania conforme determina a Constituição Federal.

Objetivos Específicos

• Oferecer atendimento interdisciplinar visando o desenvolvimento global;

• Melhorar a interação social e a estabilidade emocional;

• Desenvolver atividades de vida diária e de vida prática preparando para sua independência;

• Incentivar habilidades de comunicação verbal e não-verbal;

• Desenvolver habilidades motoras e de psicomotricidade;

• Aumentar a capacidade de criação e manutenção de vínculos;

• Melhorar a capacidade de adaptação a novas situações;

• Ampliar o conhecimento e a aprendizagem por meio de conteúdos acadêmicos;

• Provocar a ação e integração em atividades com o meio social;

• Incentivar o seu reconhecimento como pessoa dentro da sociedade;

• Proporcionar o reconhecimento do ambientes internos e externos da instituição;

• Contribuir no conhecimento e utilização de meios de transporte;

• Instruir quanto aos cuidados pessoais de proteção, de saúde e de segurança;

• Proporcionar o atendimento a todas as pessoas com espectro autista nos programas de equoterapia e de hidroterapia;

• Proporcionar a ampliação de capacidades e de habilidades ocupacionais;

• Incentivar a confecção de artesanatos e atividades ocupacionais facilitando a participação no mundo do trabalho;

• Favorecer o ajustamento dos pais e/ou responsáveis, bem como da comunidade; no que diz respeito ao transtorno global do desenvolvimento.

• Resgatar a auto-estima dos familiares e prepará-los para assumir suas responsabilidades educacionais, afetivas e sociais perante seu filho (a), oferecendo terapia familiar sistêmica;

• Promover eventos (palestras, cursos) que proporcionem informações a comunidade em geral, a família e outros profissionais;

• Aproximar a família/ entidade e entidade/ família

• Incentivar a capacitação dos profissionais envolvidos no projeto.

• Elaborar projetos que favoreçam as AVPs e AVDs.

Público Alvo

Crianças, adolescentes e adultos que se enquadrem no espectro autista

Metodologia

A triagem e a avaliação de sujeitos encaminhados ao programa com suspeita de transtorno autista deverão ser feitas pela equipe multidisciplinar. A avaliação diagnóstica será realizada a partir de itens definidos como essenciais do distúrbio contidos no DSM IV e CID-10, por meio de anamnese, observações e escalas de desenvolvimento.

Os atendimentos terapêuticos especializados serão individuais e/ou grupais nas áreas de psiquiatria, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, musica, informática, hidroterapia e equoterapia. As prescrições de medicamentos e solicitações de exames complementares, como atendimentos clínicos serão realizados pelo pediatra, psiquiatra e neurologista.

Os atendimentos em grupos (de acordo com idade cronológica, alterações comportamentais e cognitivas) serão realizados pelos pedagogos, educadores físicos, auxiliares de sala e orientados pelos profissionais especializados. Estes atendimentos acontecerão por meio de oficinas: arte, música, jogos, lazer e recreação, atividades laborais e por meio de atividades acadêmicas, de vida diária (AVD) e de vida prática (AVP). As atividades de vida diária visarão o aprendizado de higiene pessoal, estética, alimentação, exercícios físicos. As atividades de vida prática terão como objetivos a limpeza e a organização de ambientes e roupas, compras, culinária. As atividades laborais terão em vista a inclusão no mundo de trabalho para adolescentes, jovens e adultos. Os passeios e caminhadas terapêuticas, serão utilizados para o reconhecimento do ambiente social e de meios de transporte, e também, como um meio de condicionamento físico. Os conteúdos acadêmicos serão trabalhados em todas as atividades propostas, bem como em atividades específicas dependendo do interesse, do desenvolvimento e do processo de aprendizagem de cada sujeito, tendo como objetivo a possibilidade de inclusão escolar ou escolarização em Educação Especial (conforme a legislação), paralelamente ao atendimento terapêutico. Os sujeitos capacitados para serem inclusos no mundo do trabalho serão encaminhados e acompanhados pela equipe de profissionais do projeto.

Ocorrerá atendimento à família por meio de orientações ou procedimentos terapêuticos individuais e/ou grupais. As reuniões com grupo familiar para orientações e acompanhamentos acontecerão sempre que se fizer necessário.

As famílias que necessitarem será encaminhado para cursos de qualificação profissional existentes na comunidade. Profissionais do projeto acompanharão as famílias e os pacientes aos atendimentos especializados (dentistas, médicos etc).

Todas as situações do dia serão aproveitadas para explorar a aprendizagem e o desenvolvimento por meio do Currículo Funcional Natural. Deste modo, será organizado um programa educacional que seja útil ao sujeito. Os conceitos aprendidos deverão ser usados ao longo da vida da pessoa com espectro do autismo e o aprendizado reforçado por eventos naturais. Este projeto deverá contemplar a participação familiar e de todos os profissionais envolvidos no atendimento.

O atendimento aos sujeitos com o continuum autista, também, prevê programas específicos de tratamento e de ensino individualizados, com suporte de teorias cognitivistas e behavioristas, avaliações formais, informais e formativas. Pais e educadores terão como proposta a sua atuação como co-terapeutas.